sábado, 31 de janeiro de 2009

+ do mesmo

"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo.
Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação." Clarice....ainda!

Confesso que toda essa dificuldade em lidar com o não compreensivel me enlouquece! Não consigo ficar pendurada, não consigo não decidir.....tenho a sindrome do "mundo acaba amanhã"!

Aprendi a esperar...mais não tenho mais certeza!

E esse é o problema. Eu não ter as tais certezas.....isso me torna algo que não quero, e nem gosto!

Porque, certeza é uma bobagem!

Certeza de quê?
do amanhã?
do amor?
do amar?
do viver?
do morrer?

Tudo é tão vulneravel nessa vida né.....o negócio é o tal do um dia de cada vez....eu sei.....talvez eu possa negociar......
Pelo menos uns 06 meses de cada vez....sei-la
Tambem não gosto dessa certeza de que o que sou não é certo....

Por que mesmo? Quem foi que disse? Pra quem eu dei o direito de julgar o que devo ou não devo ser?

Pra mim......quando acreditei...talvez....que alguem o deveria ter.....

Será?

E não me sinto bem.
Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria?
Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu, daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo.
E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

...

O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse.

Deixa-me ser...

Não entendo!
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Eu - Parafraseada por Clarice Lispector.

Eu nunca tive um Blog. Eu na verdade, sempre odiei qualquer coisa que "demonstrasse" minha vulnerabilidade, meus defeitos, meus problemas, minhas angustias....ou me colocasse exposta de alguma maneira.....

Mais aí, um dia, eu descobri que.....eles é que são realmente quem eu sou....então eu comecei a aceita-los, e olha-los mais de perto e mais que isso, eu resolvi ter um pouquinho de orgulho deles tambem, por que na verdade eles tambem são parte fundamental daquilo que me transformo todos os dias.

Daí senti vontade de ter um lugar pra compartilhar, comigo mesma, minhas novas descobertas...e um pouquinho de tudo que já vivi neste caminho que percorri.....sempre e todo dia....tão intensamente.....vivi horrores! No sentido de muito não de horror....bem, vivi horrores literais tambem, graças a Deus.....pois só eles pra me fazerem hoje, saber admirar a importância e plenitude de dias de sol.....dia que brilham!

Eu aprendi a ver os dias que brilham! E isso é espetacular!
Eu quero aprender mais,
Eu quero ser mais simples....não no sentido de descomplicada, porque, sou capricorniana.....eu penso 99% do meu tempo.....eu vivo 10 anos, pelo menos na frente, eu sou inquieta, eu sou um ser permanentemente angustiado com tudo!

Eu sei, isso é muito cansativo! É.....tambem tenho achado! Mais essa curiosidade que me move.....não me deixa ser menos agora.....

Mais eu quero o simples então!
Eu quero roda de viola,
Café coado, de bule,
Cheiro de Mato.....hummmmmmm
Eu quero muitos erres puxados,
Vacas e galinhas,
Eu quero por os pés no chão....na terra.....

Eu quero ser
E não só ter.

Eu quero olhar pro outro,
Abraçar, afagar,
Acreditando que amanhã, um daqueles dias brilhantes nos inspirará!

Eu quero verdade!
No ser....assim.....simples!

A Lucidez Perigosa ( + Clarice)
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, Amém.